30 de out. de 2011

"Acrobacia aguça o feeling do aviador" Sepé Tiaraju Barradas


Link para o vídeo : "O venerável 180"


Pincei esse texto no facebook do experiente piloto Sepé , que não  conheço pessoalmente mas me parece ser daqueles que tem a vida dedicada à aviação. Como disse meu filho ao olhar  um álbum em que Sepé fotografa o seu Air Tractor 802 (avião p pulverização agrícola): esse cara ama o avião ! E tem que ser assim.  O texto abaixo foi escrito e ilustrado com  a belíssima filmagem das acrobacias realizadas em um avião Cessna 180, não homologado para este fim. 




NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE O VIDEO "THE VENERABLE 180"

Muitos falam de acrobacia aerea... mas na minha opinião, é muito mais que uma modalidade esportiva ou competitiva. Falam como se acrobacia fosse SÓ COMPETIÇÃO e na verdade, a competição é uma das vertentes da modalidade. Acrobacia é treinamento de pilotagem ampliando batentes e limites. Acrobacia é integração homem-máquina. Acrobacia aguça o feeling do aviador. Vou falar de algumas conceituações importantes a meu ver que hoje em dia, nessa era de aviadores modernos estão esquecidas...

ACROBACIA É VOAR GERENCIANDO O AVIÃO EM QUALQUER ATITUDE.
Segundo depoimento que tive o privilégio de escutar do Brig Magalhaes Motta, acrobacia é um estado de espirito. Todo avião tem limites. Gerenciando esses limites, pode-se levar o avião a qualquer atitude. Se você souber “envelopar” seu avião dentro dos limites de peso, G e velocidade, a atitude pouco importa. Por exemplo, um avião que voa com limites de 3,8 G com 1500 kg MTOW, se voado dentro dos limites de velocidade mas com um peso expressivamente menor (800 kg por exemplo), tem seu fator carga aumentado significativamente. Mantendo a Centragem e com peso menor que os limites, nada acontece que EXCEDA as homologações.

Baseado nisso, diversos shows aereos foram HOMOLOGADOS com avioes NÃO CERTIFICADOS para ACROBACIAS. Um dos problemas de CERTIFICAR é que CERTIFICANDO, o fabricante/projetista se responsabiliza que QUALQUER piloto possa fazer e ai como os limites são mais melindrosos, facilmente podendo expor a riscos de acidentes.

Bob Hoover certificou seu show por anos com um bimotor Shrike Commander... Sem paraquedas, portas alijaveis ou certificação para categoria ACROBATICA. Mas teve seu voo homologado pelo peso e balanceamento, pelo gerenciamento de velocidade e fator carga durante toda a extensão das manobras.
Matt Younkin, faz lindos voos num Beech Twin 18...Como seu pai Bobby fazia a decadas... Sempre com manobras de G positivo, pouco peso e limitados a uns 3,5 g.... como o próprio Matt declarou em entrevista a AeroTV, “My flight is based in a mastered combination of barrel rolls and loops” ..
Enfim, um sem numeros de aviões, certificados ou não , podem ser voados em movimentos acrobaticos. O bom senso, o conhecimento da maquina, a “intimidade” e o “planejamento” se fazem importantes. Não estou de maneira nenhuma incentivando ninguém a fazer acrobacias com avioes não certificados. Conheço vários que fazem, uns com conhecimento e outros perigosamente “as escuras”, contando mais com a sorte que sabendo efetivamente o que faz. Fiz meu curso de privado fazendo acrobacias basicas, loopings, rolls, parafusos, desde o inicio. Meus instrutores Fernando Guerra, Chico Ledur, Marco Antonio R.da Silva e Cato Belleza, desmistificaram desde o inicio e sempre, sempre me ensinaram os LIMITES. MEUS e das MAQUINAS. Sei que um Bonanzinha C35 voando com 2 a bordo e pouca gasolina tem sua categoria UTILITY(+4,4 e -2,2) certificado de manual... há mais de 60 anos! Com a impecavel manutenção que tem, não é problema algumas manobras de g positivo... enfim, o que importa é A PEÇA ENTRE O MANCHE E DO BANCO.
Sempre! Como disse o Magalhaes Motta uma vez, “O QUE TEM QUE SER ACROBATICO É O PILOTO!” Ser acrobatico, é saber os riscos, os limites, gerenciar isso tudo e voar seguro... Sinceramente, vejo hoje muitos ULTRALEVES ACROBATICOS, que me dão arrepio só de ver... e ao mesmo tempo, vejo um bom Cessna 180, certificado e bem mantido com muito mais segurança... Desculpem aos que não concordam, respeito a opiniao de todos mas esses conceitos são fruto de uma vida inteira de aprendizado... Enquanto escrevo isso, me passa um sem numero de fatos e pessoas na cabeça...Braga,Magalhaes Motta, Fernando Guerra,Cato Belleza, Chico Ledur,Bola, Machado,Colvara, Leonardo Kaczmarek,Beto Textor, Otavio Kovacs, Joseph Kovacs, Vomero, Paes de Barros, Max Fontoura, Carlos Edo.... enfim... um numero expressivo de AVIADORES que em um ponto ou outro, ajudaram a solidificar esses conceitos do que é simplesmente VOAR!

Esta nota tem a finalidade de esclarecer alguns pontos, e dar ciencia a todos, que o video que postei com o C 180 PT CGJ, foi muito bem planejado e nada, absolutamente nada foi loucura, falta de juizo ou qualquer que seja a conceituação das diversas mensagens em PVT que recebi condenando o video. Voei com dois a bordo, 50 litros de AVGAS, nunca excedi 160 MPH(arco verde do C180H com peso maximo de decolagem!!!) , não efetuei manobras com mais de 2,5 G(todos os tunos foram positivões propositalmente, tunos de aileron ou de tempo abarrilados) num horario livre de turbulencias que pudessem aumentar o fator carga e sempre mantendo no MINIMO 2500 ´ AGL... e como podem notar pela velocidade de rolamento, SEMPRE dando inputs suaves de comando...
Avião revisado estruturalmente recentemente(trocaram todos os parafusos e checaram toda estrutura quanto a corrosoes e possíveis problemas.)

Essa é a minha explicação sobre o voo e sobre o video, que foi na verdade, uma “inspiração” e um tributo a todos os aviadores que valorizo. Abraços, bons vôos(certificados ou não), consciência e acima de tudo SEGURANÇA!
  
Sepé Tiaraju Barradas
PLA-Piloto Lá do Alegrete


“O PRIMEIRO PASSO PARA A SEGURANÇA DE VÔO, É ENSINAR A VOAR BEM!”